sexta-feira, 28 de março de 2008

Qual é mais Justo?

"_Você passa pelos valores da dor ?
Marco Polo refletiu e
considerou:
_Algumas vezes sim.
_Não se intimide. Eu e o Poeta
comentávamos que não há pessoas isentas de sofrimento, nem no meu, nem no seu
mundo. O que há são pessoas menos encarceradas do que outras. Todos somos reféns
de algum período do passado.
Falcão não fez comentários sobre as algemas do
seu passado e nem Marco Polo se atreveu a questioná-lo. Continuou descrevendo o
Poeta. Disse que quando a fome apertava, ele não pedia dinheiro, fazia os homens
viajarem.
_Viajarem ?
_Sim, viajarem para dentro de si mesmos.
_Como
?
Falcão subiu num banco da praça e repetiu a cena que seu amigo fazia e que
ele aprendera a fazer. Conclamou a multidão a se aproximar. Começou a declamar
altissonante uma poesia à natureza. Os caminhantes, admirados, fizeram um
semicírculo. Apontou um belo pássaro e levou a multidão a viajar nas suas
asas.
_Mais sábios que os homens, são os pássaros. Enfrentam tempestades
noturnas, tombam de seu ninhos, sofrem perdas, dilaceram suas histórias. De
manhã, têm todos os motivos para se entristecer e reclamar, mas cantam,
agradecem e alegram mais um dia. E vocês portadores de nobres inteligências, o
que fazem com suas perdas ?
Em seguida, colocou o esgarçado chapéu à sua
frente. Calou-se e sentou-se ao lado do deslumbrado Marco Polo. Os ouvintes ,
extasiados, o aplaudiram e lhe deram dinheiro. Marco Polo indagou:
_Você
recebeu muitas esmolas ?
_Não recebi esmolas . Elas pagaram pela viagem que
lhes proporcionei. Saiu barato.
Aquilo era demais para a mente de Marco Polo.
Ele ficava atônito a cada frase de Falcão. Após a dispersão da multidão, vários
mendigos famintos se aproximaram, Falcão distribuiu o dinheiro entre eles. Este
ritual era comum.
_Você deu-lhes todo o dinheiro ?
_Em meu mundo, os mais
fortes servem aos mais fracos. No seu, os mais fracos servem aos mais fortes.
Qual é mais justo ? "